sábado, 13 de agosto de 2011

Como reconhecer a consciência

Em 1950, o matemático britânico Alan Turing publicou um artigo que propunha um teste para verificar se um computador ou programa exibe comportamento inteligente. Esse teste, denominado Teste de Turing, apresenta um juiz humano interagindo por meio de linguagem natural , com um computador e com outro ser humano. O juiz está isolado do computador e do ser humano. Se após certo tempo, o juiz não conseguir definir quem seria o ser humano ou o computador, tal computador será considerado inteligente. 
A chamada teoria da informação integrada da consciência oferece uma forma de lidar com o desafio de determinar a consciência em um sistema computacional. Nossa experiência cotidiana de interação com o meio relaciona-se à forma como o cérebro integra sinais sensoriais obtidos através dos sentidos com informações da memória. A teoria da informação integrada propõe que a consciência é altamente informativa, ou seja, cada estado de consciência em particular descarta um número imenso de outros estados possíveis dos quais ele se difere, formando a ideia real do que estamos vivenciando. Propõe também, que a informação consciente é integrada, ou seja, qualquer cena que entre na consciência por meio de nossa experiência sensorial permanece integral e completa e não pode ser subdividida em componentes independentes que possam ser vivenciados de forma isolada. A consciência, portanto, é uma entidade única, integrada com um grande número de estados distinguíveis.
A capacidade de um sistema para a informação integrada e, por conseguinte, para a consciência, pode ser medida perguntando-se quanta informação um sistema tem acima e além da que compõe suas partes individuais. Essa  medida, denominada ɸ, pode ser calculada para qualquer sistema, tanto para um cérebro como para um robô, ou um programa, ou até mesmo um dispositivo eletromecânico. Um sistema constituído de partes bem especializadas e bem integradas, produzindo mais juntas que separadas, possui um ɸ alto. Dentre os sistemas que possuem um ɸ baixo, podemos citar aqueles que possuem elementos com alto grau de independência, aqueles cujos elementos são redundantes (não especializados) e aqueles cujos elementos se interconectam aleatoriamente.  No córtex cerebral humano, rico em neurônios fortemente interconectados, o ɸ é naturalmente alto.
Para um computador, uma imagem é simplesmente um emaranhado de pixels sem significado. Para um ser humano uma imagem é significativa porque está repleta de conexões entre as partes, estendendo-se de pixels a objetos e cenas, especificando que partes da imagem combinam ou não entre si.  É exatamente essa diferença , essa rede integrada de conhecimento relacionado que dá identidade a cada imagem distinguindo-a de várias outras, que nos dota da capacidade de sermos conscientes do mundo.
Uma forma interessante de testar a capacidade de um computador entender uma imagem, seria o cobrir terço central vertical de várias imagens com uma faixa preta, separar as partes resultantes (direita e esquerda) e embaralhá-las. O computador é desafiado a identificar os pares que fazem parte da mesma imagem. Estratégias simples atuais utilizadas por programas de análise de imagem, como ligar linhas de cor e textura, não poderiam ser utilizadas porque as partes direita e esquerda foram separadas pelo terço coberto pela faixa preta.  Esse teste envolve muito mais, envolve a capacidade de deduzir como as peças se encaixam, imaginando o que existe no terço coberto pela faixa preta.  Estratégias computacionais que envolvem a combinação de informações estatísticas simples, como características de imagem-cor, bordas ou textura- podem ser bem sucedidas em testes como este, mas têm alcance limitado quando muitas situações são apresentadas ao computador. Isso evidencia a grande quantidade de informação integrada que percebemos conscientemente e as limitações atuais dos sistemas de visão computacional.
Atualmente, programas especializados são capazes de identificar rostos, digitais ou assinaturas, mas ainda é muito difícil desenvolver um algoritmo que seja capaz de identificar que um notebook flutuando sobre uma mesa é algo irreal e inusitado.  Um algoritmo dotado de consciência teria que ter conhecimento das incontáveis conexões entre as coisas do mundo contido em sistema único, altamente integrado.  A resposta à pergunta "o que está errado na figura" seria possível porque qualquer coisa fora do lugar não combinaria com algumas das restrições intrínsecas impostas pelo modo como a informação é integrada. Ou seja, seria um modo consciente de agir graças à capacidade de integrar informações.  Suspeita-se que para atingir esse nível, devem-se explorar os princípios estruturais do cérebro humano, altamente distribuído e com partes altamente dependentes e interconectadas.

Baseado no artigo "Como Reconhecer a Consciência"  de Christof Kock e Giulio Tononi, publicado na Scientific American Brasil de julho de 2011.


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