sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Viagens Extracorpóreas. Verdade ou Alucinação?

Nos anos 80 o médico brasileiro Waldo Vieira publicou um livro de 900 páginas, versando sobre a chamada projeciologia, ou a capacidade da consciência humana se libertar do corpo físico e retornar ao mesmo.  Na época, assisti a uma palestra do Dr. Waldo no auditório do ITA e, ainda que eu não descarte essa possibilidade por crer que nosso conhecimento acerca da realidade ainda é muito pequeno, na essência sempre fui cético.
Entretanto, o Dr. Miguel Nicolelis, renomado pesquisador brasileiro radicado na Universidade Duke nos Estados Unidos, em seu excepcional livro "Muito Além do Nosso Eu", descreve experimentos  interessantes, que lançam um víés realmente científico  sobre o assunto.
Segundo Nicolelis, essa sensação pode ser induzida por traumas, experiências de quase morte, consumo de drogas psicodélicas, meditação profunda, privação de sono, determinados tipos de anestesia, dentre outros fatores. Essa sensação pode ser também  reproduzida em indivíduos saudáveis por meio de estimulação da área  da junção dos lobos parietal e temporal no hemisfério cerebral direito, usando uma técnica  conhecida como estimulação magnética  transcraniana.
O cientista  sueco Henrik Ehrson realizou  experimentos em que os voluntários relataram a sensação de estar fora de seus corpos e até mesmo trocar de corpo com outras pessoas. Para chegar a esses resultados, Ehrson manipulou a denominada perspectiva de primeira pessoa dos indivíduos, fazendo-os utilizar um  capacete equipado com monitores de vídeo que cobriam ambos os olhos, exibindo imagens binoculares provenientes de câmeras montadas na cabeça de um manequim colocado na frente deles. Essas visões eram das mãos, troncos e abdome sob a perspectiva de primeira pessoa do manequim. Em seguida, um pesquisador se colocou entre o manequim e o voluntário, tomando o cuidado de ficar fora do alcance das câmeras.  Usando dois bastões, o pesquisador começou a estimular sincronizadamente  o abdome do voluntário e do manequim por alguns minutos. O voluntário conseguia ver, por meio dos monitores, um dos bastões tocando o abdome do manequim.  Surpreendentemente, quando indagados, os voluntários relataram sentir o toque do bastão no corpo do manequim e não no seu próprio. A maioria deles acabou por afirmar que passaram a sentir o corpo do manequim como sendo o seu.  Ao perceber uma ameaça de corte com faca no abdome e mãos do manequim, os indivíduos manifestaram um comportamento de estar sob ameaça.
Em outro experimento, Ehrson colocou  voluntários e um experimentador   frente a frente. Os voluntários utilizavam o mesmo capacete com monitores, que exibiam imagens geradas por câmeras montadas na cabeça do experimentador, sentado na frente deles e olhando diretamente na direção deles. Graças a esse aparato, os voluntários observavam as mãos do experimentador como sendo suas e suas próprias mãos do ponto de vista do observador. O sujeito deveria estender o braço direito para apertar a mão direita do experimentador. Entretanto, o que ele via com os olhos eram as imagens do braço direito do observador se movendo simultaneamente em direção ao seu. E  visualizava seu próprio braço como se fosse de outro corpo posicionado em frente ao seu. Nesse instante, o sujeito deveria apertar a mão que se projetava em seu campo visual, enquanto o experimentador apertava a sua simultaneamente.O aperto de mãos era mantido por alguns minutos. Ao relatar a experiência, os voluntários, em sua grande maioria, afirmavam sentir que o braço do experimentador  era uma extensão do corpo de cada um deles. Afirmavam também que o corpo do experimentador passou a ser seus corpos, substituindo seu corpo real. Ou seja esses indivíduos, em poucos minutos, foram capazes de renegar seus corpos orgânicos e assumir um outro corpo!  Um outro fato curioso é que quando seus corpos e depois o do experimentador eram ameaçados por uma faca, eles exibiam uma reação de alarme muito maior quando a ameaça era feita ao corpo do experimentador. O experimento também funcionou quando o experimentador e o voluntário eram de sexos opostos.
Segundo muito bem expresso por Nicolelis, esses experimentos  mostram que  o o corpo  não passa de uma artimanha dissimulada pelo cérebro, reduzindo o culto ao corpo a mera futilidade. Evidencia também possibilidades interessantes, como nosso cérebro assumir intimamente outro corpo (como no filme Avatar), ou um corpo virtual (como no filme Matrix)  e perceber todas as sensações oriundas do mundo  onde possa estar inserido.

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